(Soneto continuado...)
I
É tarde e chove.
Tarde na noite, no dia?
Não sei, que o mar não devolve
Pecados que eu cometia.
Águas profundas, sargaços,
Marés de acre odor, breve
Postal em que abraços
Se trocam… e há neve
Sob a pele que me namora
E sinto frio o meu nome
Sinto-te frio por fora…
Sinto saudades do mar
De praias, águas, da fome
Que nunca quis saciar...
II
É tarde e chove.
Tarde na noite, no dia?
Não sei, que já meu sonho se encolhe
Já a lembrança é bravia
E não obedece ao tempo
Em que a quis renascer.
São sonhos? Divagações e lamentos,
O resto… não sei nem quero saber.
Só sei na pele arrepios
Na lembrança desencantos
E águas mil, os pés frios
E a fome vinda do mar.
Sonho e trevas, com seus mantos
A envolverem-me o olhar…
III
É tarde e chove.
Tarde na noite, no dia?
Não sei, quiçá apenas me move
O medo que te esquecia.
Sonhos, tremores, quebrantos
Ó marés, ó águas mil
Por que me abris vossos mantos
E me atraís ao ardil
Em que me negais ventura
Apenas me aproximais
Cada vez mais da negrura
Em que me afundo e desmaio
Quando vos sinto iguais
Aos abismos em que caio?
IV
É tarde e chove.
Na alma, no tempo, no mundo
E só a treva me envolve
Só seu abraço é profundo.
Sonhos e trevas, compassos
De fadas, monges, promessas
Quebradas nestes abraços
De mar e sal. Velórios, essas
Em que me exponho à nudez
Deitada em caixão vazio
À sombra de dois ou três
(Ou até de quatro) mastros
De um assombrado navio
Que se perdeu dos meus braços…
(Felipa Monteverde)
quarta-feira, 19 de maio de 2010
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